
Adolescente, ao responder a uma pergunta da mãe, Claudina os Gil Moreira, sobre que profissão gostaria de exercer, Gilberto Gil foi objetivo: "Musgueiro". Tempos depois, em 1964, ao participar do musical Nós por exemplo, ao lado de Caetano Veloso, Tom Zé, Maria Bethânia, Gal Costa e Alcyvando Luz, no Teatro Vila Velha, em Salvador, ele se revelou um exímio cantor e violonista.
O compositor e intérprete viria a ser descoberto pelo Brasil três anos depois, quando classificou-se em terceiro lugar na segunda edição do histórico Festival da Record com Domingo no parque, acompanhado por um novo grupo, Os Mutantes, formado por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias.
Desde então, o que se viu foi uma sucessão de êxitos, representada por discos icônicos como Expresso 2222, Louvação, Realce, Refavela, Refazenda, além dos que gravou com Jorge Ben Jor, Milton Nascimento e Rita Lee. Isso sem esquecer a determinante contribuição para o álbum Tropicália, no qual dividiu a liderança com Caetano Veloso.
Parte desse importantíssimo legado para a MPB pôde ser apreciado — ao vivo — pelos 40 mil espectadores presentes ao concerto que Gil apresentou no último sábado, na Arena Mané Garrincha, em Brasília, num clima de grande entusiasmo.
O show, que deu sequência à turnê Tempo Rei, anunciada por ele como a última de sua trajetória artística, deve ser considerado algo bem maior. O que vimos ali foi a representação de quão é grandiosa a cultura popular do país, emanada por um dos seus nomes de maior representatividade.
Tendo em sua companhia uma big band, com direito a naipes de cordas e percussão, Gil exibiu impressionante vitalidade aos 83 anos, ao ear por um precioso repertório que incluiu clássicos com a relevância de Aquele abraço, Bat macumba, Drão, É aqui e agora, Eu vim da Bahia, O luar, Palco, Procissão, Se eu quiser falar com Deus e, claro, Tempo Rei.
Quase todas as canções foram acompanhadas em coro pela plateia, que deixou o estádio convicta de ter presenciado um espetáculo que dignifica a música popular brasileira, que tem nesse imortal da Academia Brasileira de Letras um dos seus baluartes.