EXPLORAÇÃO ESPACIAL

Os segredos do amanhecer cósmico são revelados, a partir do Chile

Uma equipe de cientistas conseguiu realizar a primeira observação direta do "amanhecer cósmico" com telescópios instalados na Terra. Medir a reionização de forma mais precisa ajuda a refinar nossa compreensão de componentes misteriosos do Universo, como a matéria escura e os neutrinos

Os telescópios Class podem detectar sinais de luz cósmica de micro-ondas -  (crédito: Deniz Valle e Jullianna Couto/Divulgação)
Os telescópios Class podem detectar sinais de luz cósmica de micro-ondas - (crédito: Deniz Valle e Jullianna Couto/Divulgação)

A partir de telescópios instalados nas remotas montanhas do Chile, uma equipe de cientistas conseguiu realizar a primeira observação direta do "amanhecer cósmico", conhecido como Cosmic Dawn (em inglês),  a partir da Terra. Esse período crucial na história do Universo, há mais de 13 bilhões de anos, marca a formação das primeiras estrelas e galáxias e seu impacto na luz remanescente do Big Bang.

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O projeto Cosmology Large Angular Scale Surveyor (Class), liderado pela Johns Hopkins University e a Universidade de Chicago, concentra-se em medir uma luz polarizada, conhecida como Fundo Cósmico de Micro-Ondas (CMB, na sigla em inglês). Essa luz, uma espécie de "brilho residual" do Big Bang, contém informações vitais sobre o Universo primordial.

Observar a luz polarizada do solo é extremamente difícil, alertam os cientistas. O sinal é incrivelmente fraco — a luz polarizada é cerca de um milhão de vezes menos intensa que a luz de micro-ondas total. Além disso, as observações terrestres enfrentam interferências de ondas de rádio, radar, satélites e distorções causadas pela atmosfera da Terra. Superar esses obstáculos representa uma conquista científica significativa.

Mapas de polarização linear CLASS 90 GHz mostrados em coordenadas celestes sob projeção. Regiões em cinza indicam partes do céu não mapeadas pela Class
Mapas de polarização linear CLASS 90 GHz mostrados em coordenadas celestes sob projeção. Regiões em cinza indicam partes do céu não mapeadas pela Class (foto: Divulgação)

Os telescópios do Class, localizados no Parque Astronómico Atacama, no norte do Chile, foram projetados de forma única para detectar as "impressões digitais" deixadas pelas primeiras estrelas na luz do Big Bang. Eles medem como a luz do CMB é polarizada — um efeito semelhante ao brilho que vemos em superfícies — quando atinge elétrons que foram libertados dos átomos de hidrogênio pela intensa energia das primeiras estrelas. Esse processo é conhecido como reionização cósmica.

Pela primeira vez a partir da Terra, o estudo do Class detectou a reionização cósmica com 99,4% de significância. A pesquisa conseguiu medir a profundidade óptica da reionização, um parâmetro chave que descreve o período em que a reionização ocorreu. O valor obtido é de 0,053 (+0,019/-0,018). Este resultado é consistente com medições anteriores feitas por missões espaciais como WMAP e Planck.

A capacidade de medir a reionização com esta precisão a partir da Terra, algo que se pensava ser impossível, valida a abordagem e a tecnologia do Class.

As descobertas têm implicações importantes para a cosmologia, alertam os pesquisadores. Medir a reionização de forma mais precisa ajuda a refinar nossa compreensão de componentes misteriosos do Universo, como a matéria escura e os neutrinos. Um valor preciso para é crucial para determinar outros parâmetros cosmológicos e pode ajudar a resolver tensões existentes entre diferentes medições do Universo.

Olhando para o futuro, os pesquisadores do projeto Class planejam melhorar a precisão. Estão previstas otimizações nas técnicas de análise para lidar com a filtragem de dados, redução do ruído instrumental e a implantação de um segundo telescópio de 90 GHz em 2025. O objetivo é atingir uma precisão limitada apenas pela própria natureza do sinal cósmico.

A pesquisa está disponível no The Astrophysical Journal nesta quarta-feira (11/6).

postado em 11/06/2025 10:09 / atualizado em 11/06/2025 14:52
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