Entrevista

"Contamos a verdadeira história", afirmam protagonistas do musical Chatô

Ao CB.Poder, Stepan Nercessian e Sylvia Massari, protagonistas do musical "Chatô & Diários Associados — 100 anos de paixão" destacam a importância do jornalista e empresário para a cultura e o crescimento do Brasil em meio a turbulências históricas

Stepan e Sylvia  falam da preparação para o musical sobre Chatô -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Stepan e Sylvia falam da preparação para o musical sobre Chatô - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Os atores Stepan Nercessian e Sylvia Massari, protagonistas do musical Chatô & Os Diários Associados — 100 anos de paixão, participaram da edição desta quarta-feira (11/6) do CB.Poder — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília.

Os intérpretes contaram aos jornalistas Adriana Bernardes e Severino Francisco os bastidores da preparação para o musical, que resgata a trajetória de Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados e figura marcante da história da comunicação no Brasil.

Cb Poder com os artistas da peça Chatô Stepan Nercessian e Sylvia Massari
Atores destacaram a grandeza de Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados (foto: Fotos: Minervino Junior/ CB/DaPress)

 

Como foi receber o convite para participar desse musical histórico?

Sylvia Massari — Quando eu soube da ideia de realizar o espetáculo, fiquei incrédula. Foi um orgulho enorme saber que minha personagem, que é fictícia e representa todas as secretárias do Chatô, recebeu uma dimensão tão grande na peça. Foi um presente muito grande.

Qual a intenção da peça em mostrar a grandeza de Chateaubriand?

Stepan NercessianGosto de ressaltar a liberdade que tivemos, porque apesar de ser uma peça comemorativa aos 100 anos dos Diários Associados, não foi um espetáculo chapa-branca. Tratamos os personagens da maneira que a gente entendesse. Realizar esse trabalho em um musical mostra a importância que o Chatô teve em relação aos artistas brasileiros. Da mesma forma, em relação aos jornais, em que as grandes jornalistas trabalharam nos Diários Associados. Assis Chatreaubriand não foi um homem periférico na história do Brasil, pois sempre esteve no centro do poder. Ele sentava com presidentes da República, como Getúlio Vargas e JK, e definia rumos da própria política brasileira. Então, há essa necessidade de resgatar e dizer para as pessoas a importância de olhar para o ado e aprender.

Como vocês conseguiram reunir tantos talentos para um musical?

Sylvia MassariQuando houve a audição para o espetáculo, ficamos impressionados com o celeiro de grandes vozes que se apresentaram. É incrível como tem gente talentosa chegando no mercado, o que não acontecia quando comecei. Hoje, há uma grande dificuldade em selecionar, porque você fica com pena de descartar.

Como foram os bastidores da produção e do trabalho em equipe?

Stepan Nercessian — O teatro nos exige muita disciplina. Certa vez, em uma escola de arte, expliquei para as pessoas que o pai do teatro é o circo. Os trapezistas, quando se jogam para fazer um salto mortal, eles sabem que ninguém pode atrasar um segundo, pois o outro pode cair. Então você fecha os olhos e tem certeza absoluta que seu companheiro está ali. Isso te dá uma escola de responsabilidade e é ado para o teatro. Porque quando terminamos nossa cena, não saímos e damos as costas, mas celebramos a entrada do próximo artista.

Como foi contar a história da inauguração de Brasília, em solo brasiliense?

Stepan Nercessian — Desde que descobrimos que íamos para a Brasília, fiquei pensando muito nisso. Porque é o encontro da ficção com a própria realidade. Eu sou de Cristalina, Goiás, e eu ei aqui quando era pequeno, mas tenho muita lembrança dessa cidade sendo construída. Ainda tinham todos os candangos, com barracos de madeira. A minha família não veio na inauguração, mas viemos logo em seguida e fiquei encantado, porque foi a primeira vez que eu vi uma escada rolante. Quando cheguei lá em Goiânia, que eu contei, "lá tem uma escada que anda sozinha", o pessoal não acreditou e me chamou de mentiroso! Meu pai me levou ao palácio (da Alvorada), quando eu tinha 5 anos, e ele falou: "Faz xixi ali, no lago, para você falar que você mijou no lago do presidente da República" (risos). Então, tenho ótimas lembranças e muita paixão por essa cidade.

Como foi a recepção do público brasiliense?

Stepan Nercessian — Foi a melhor possível. A gente ficou muito encantado, porque ontem (terça-feira) era uma sessão especial. Normalmente, nessas sessões, a gente não pode aferir muito bem qual é a reação do público, qual é a reação dos convidados. Sempre tem uma diferença. Mas a gente está escolado com as reações do público. E ontem (terça-feira) a gente tinha uma expectativa, como é que essas pessoas vão reagir. Mas a gente vê que o espetáculo vai conquistando as pessoas.

Em qual medida essa peça provoca uma reflexão política?

Sylvia Massari — Não há um partidarismo. O que nós contamos é a verdadeira história do Assis Chateaubriand e a verdadeira história do que aconteceu na cassação da TV Tupi, na época da ditadura. Isso emociona muito o público. Então, em certos momentos, alguém fala que (Chatô) é de direita ou é de esquerda, mas não é. A peça narra fatos verdadeiros. Por umas duas ou três vezes, aconteceram fatos de um casal se levantar e, de repente, uma pessoa da plateia achar que era uma peça partidária e gritar sem anistia. Não existe isso. Nós estamos ali para contar uma história verdadeira, o que aconteceu na ditadura. A emoção é tão grande, principalmente quem viveu essa época, que sabe de tudo o que aconteceu. Então, a peça fala sobre fatos que existiram e não é partidária.

Stepan Nercessian — A gente não controla a reação da plateia. Houve muita manifestação, as pessoas se emocionarem muito, levantarem e começarem a gritar e fazer um comparativo com o que está se ando hoje, começam a gritar sem anistia, sem anistia, o teatro inteiro. E aí tem algumas pessoas que estavam ali, que pensam de maneira diferente, não concordam. O teatro tem esse poder também e é importante que isso aconteça, que mexa com as emoções das pessoas e que isso é o que leve a uma reflexão. O nosso espetáculo também tem esse dom de informar.

Quais são os momentos mais emocionantes do espetáculo?

Sylvia Massari — Um dos momentos que mais me emociona é quando o (ator) Claudinho Lins, que é filho do Ivan, canta músicas do Ivan Lins ali. É de arrepiar.

Stepan Nercessian — O momento que mais me emociona no espetáculo, desde o ensaio, é quando o menino que faz o papel de Caetano Veloso, na véspera do Natal, que foi um programa de televisão que ele fez (ameaçado) com um revólver na cabeça, e ele canta Noite feliz. Aquele, para mim, foi um momento mágico do espetáculo.

Como é que vocês veem o jornalismo hoje e que lição pode ter essa presença do Chatô?

Sylvia Massari Para mim, vocês, jornalistas, são heróis. Porque vocês enfrentam situações incríveis, pois o jornalista está ali para contar o que está acontecendo, para dizer a verdade, que nem sempre as  pessoas querem ouvir ou ler.

Stepan Nercessian — Tenho a impressão que, se o Chateaubriand estivesse vivo hoje, ele estaria no auge da alta tecnologia, da inteligência artificial. Ele tinha uma visão sempre futurista. Então, acho que hoje, ele não estaria distante dessa história. Vivemos um momento muito especial, que eu acho de resistência. O jornalismo hoje é um foco de resistência à mentira. Eu fico vendo as pessoas sofrendo com tanta mentira. Então, a resistência é nossa. Nós temos que resistir.

Espetáculo

O musical Chatô & os Diários Associados — 100 anos de paixão chegou na capital federal, com duas apresentações especiais no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Com direção de Tadeu Aguiar e texto assinado por Fernando Morais e Eduardo Bakr, o espetáculo celebra o centenário do grupo de comunicação fundado por Assis Chateaubriand.

 


DC
postado em 12/06/2025 03:00
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