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Angústia e expectativa da família por notícias do ativista Thiago Ávila

O ativista brasiliense de 38 anos Thiago Ávila é um dos 12 voluntários que viajavam no barco Madleen, com o objetivo de levar ajuda humanitária a Faixa de Gaza. A Embaixada do Brasil em Israel informou que trabalha para a repatriação do brasileiro

Lara Souza e Luana Ávila: esposa e irmã falam que a família não tem notícias de Thiago desde as 21h de domingo -  (crédito: Ed Alves/CB/DA Press)
Lara Souza e Luana Ávila: esposa e irmã falam que a família não tem notícias de Thiago desde as 21h de domingo - (crédito: Ed Alves/CB/DA Press)

Além dos governos e dos ativistas que lutam por uma Palestina livre, a interceptação do barco Madleen, que levava 12 voluntários para Gaza, tem angustiado principalmente famílias. Entre os integrantes do grupo está o brasiliense Thiago Ávila. O Correio conversou com a mulher e com a irmã do ativista de 38 anos, que relataram o clima de tensão e as tentativas de trabalhar em favor da libertação dos voluntários e da chegada da ajuda humanitária até Gaza. A última vez que a família teve contato com Thiago foi às 21h de domingo (8/6), quando ele informou da operação israelense. 

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A embarcação chegou ao porto militar Ashdod, em Israel, na tarde dessa segunda-feira (9/6). De acordo com a Flotilla pela Liberdade, coletivo humanitário da qual Thiago faz parte, o grupo ficou em poder das autoridades israelenses, que determinaram a transferência dos voluntários para a unidade prisional de Ramleh, a não ser que concordassem em ir embora. Neste caso, eles serão autorizados a pegar um voo de Tel Aviv de volta para os respectivos países. 

A Embaixada do Brasil em Israel informou à família que está trabalhando para repatriá-lo o mais rápido possível. A equipe da embaixada foi autorizada pelo governo israelense a participar do interrogatório, mas até o fechamento desta reportagem, ainda não havia acontecido. O deputado distrital Fábio Félix (Psol) e a deputada federal Érika Kokay (PT) participaram da reunião entre o Itamaraty e a mulher de Thiago, Lara Souza. 

Parlamentares do DF participam de reunião no Itamaraty, juntamente com a mulher de Thiago Ávila, Lara Souza
Parlamentares do DF participaram de reunião no Itamaraty, ontem (foto: Divulgação/Fábio Félix)

"O que sabemos é que, antes da interceptação, eles tinham sido atacados com armas químicas que não sabemos o que era. Era uma substância com efeitos semelhantes ao gás lacrimogênio que fazia arder o olho, coçar a pele e dificultava a respiração", contou Lara. "O governo israelense postou um vídeo na rede social X onde algumas pessoas do grupo aparecem em um bote, mas o Thiago não apareceu. Nós não vimos o rosto do meu irmão desde que o barco foi interceptado", completou a irmã, Luana. 

Na manhã dessa segunda (9/6), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil soltou uma nota à imprensa informando que o governo brasileiro acompanha com atenção a interceptação. "Ao recordar o princípio da liberdade de navegação em águas internacionais, o Brasil insta o governo israelense a libertar os tripulantes detidos", disse a nota. "Sublinha, ademais, a necessidade de que Israel remova imediatamente todas as restrições à entrada de ajuda humanitária em território palestino, de acordo com suas obrigações como potência ocupante. As embaixadas na região estão sob alerta para, caso necessário, prestar a assistência consular cabível, em consonância com a Convenção de Viena sobre Relações Consulares", concluiu o informativo.

"Ele é do mundo"

O barco com os 12 voluntários partiu em 1º de junho e tinha previsão de chegar no último domingo. "A viagem demoraria sete dias desde o porto na Itália, de onde partiram, até Gaza. A volta duraria o mesmo tempo", disse a mulher de Thiago. "Eles levavam alimento, medicamentos, fórmulas e próteses infantis. O movimento tinha o intuito de abrir o corredor de ajuda humanitária. Atualmente, tem vários caminhões com ajuda parados na fronteira de Rafah e Israel não está deixando entrar", ressaltou. 

O Direito Internacional Humanitário (DIH) ou 'direito de guerra' garante a legalidade do envio de ajuda humanitária com o objetivo de proteger as pessoas afetadas por conflitos armados. "Corredores humanitários fizeram a diferença em momentos históricos no mundo. O mínimo de humanidade não pode ser desprezado", argumentou a irmã.

Thiago Ávila, 38 anos, ativista brasiliense
Envolvimento do brasiliense na causa palestina começou em 2005 (foto: Fotos: Arquivo pessoal )

Segundo a família, o envolvimento de Thiago com a causa palestina começou em 2005. "Em 2023, quando as fronteiras foram fechadas e parou de chegar a ajuda humanitária por lá, ele intensificou o trabalho em favor da Palestina. No mesmo ano, ele chegou a ir ao Egito para acompanhar a tentativa de envio de ajuda humanitária pela fronteira de Rafah e mostrou que os caminhões com comida estavam sendo impedidos de entrar", relembrou a mulher do ativista.

"No início de 2023, entravam 300 caminhões para levar comida, recentemente, entravam cinco por dia. Mas agora, não está entrando nenhum. A fome está sendo usada como arma de guerra", destacou Lara. "O que o Thiago está fazendo não é usar essa situação para ganhar visibilidade, é usar a visibilidade que ele já tem como ativista para chamar atenção para a situação que é crítica", defendeu. "Há muito tempo, o Thiago não é nosso, ele é do mundo. A gente sabe que, se a gente segurar ele aqui, ele definha", completou Luana.

postado em 10/06/2025 03:00
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